Depois de muita espera e ansiedade, finalmente chega aos cinemas o novo filme de Tim Burton, "O Lar das Crianças Peculiares", prometendo resgatar o lado mais criativo e sombrio do diretor americano depois de alguns trabalhos fora da curva.
Para ajudar você a entender melhor esse mundo estranho, o Guia da Semana mergulhou fundo no trabalho de Burton e conta para você 10 fatos que vão mudar sua visão sobre os filmes, os desenhos e até os poemas desse artista incompreendido:
1. Antes de ser diretor de cinema, Burton já era um desenhista
Você já se perguntou por que os filmes de Tim Burton têm aquele visual característico, ou por que certos elementos visuais – como listras ou espirais – sempre se repetem? Isso é porque Burton começou sua carreira como ilustrador, não como diretor. Ele morava em Burbank, perto dos estúdios da Disney, e seu primeiro emprego acabou sendo lá mesmo – onde trabalhou na animação de filmes como “O Cão e a Raposa” e no departamento de criação do macabro “O Caldeirão Mágico”.
2. Ele expressa suas angústias pela arte, seja fazendo cinema, pinturas ou até livros infantis
Livros infantis? É isso mesmo: Burton é autor de “O Triste Fim do Pequeno Menino-Ostra e Outras Histórias”, um livro de poemas que narram histórias trágicas com crianças que não conseguem se adaptar ao mundo. Ele escreveu essa obra durante uma crise de insatisfação com o cinema, pouco depois de abortar o projeto de um novo Superman (com Nicolas Cage no papel) – isso porque ele considerava o herói vazio e sem conflito.
3. Em todos os seus filmes autorais, há um personagem que é seu alter-ego
Não é por acaso que Victor Van Dort (“A Noiva Cadáver”), Victor Frankenstein (“Frankenweenie”) e Vincent (“Vincent”) são personagens tão parecidos – sempre magros, com dedos compridos, olheiras profundas e cabelos desgrenhados. Olhe para qualquer foto de Tim Burton e você compreenderá a semelhança. A inspiração para o visual vitoriano também vem do ator Vincent Price, seu ídolo (que faz a narração de "Vincent").
Esses protagonistas, assim como Bruce Wayne, Jack Skellington ou Edward Mãos-de-Tesoura (uns menos evidentes que outros), são todos formas de alter-ego do diretor – representações do artista incompreendido, de boas intenções e atos terríveis, que não se adapta aos padrões, tem problemas com o pai e cuja curiosidade é insaciável.
4. Seus protagonistas costumam viver entre dois mundos
Seja como artistas ou como monstros, os heróis de Burton estão sempre divididos entre dois universos: o real e o imaginário (“Vincent”, “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas”, “Alice no País das Maravilhas”); o individual e o coletivo (“Edward Mãos de Tesoura”, “A Fantástica Fábrica de Chocolate”); o dos vivos e o dos mortos (“Os Fantasmas se Divertem”, “Frankenweenie”, “A Noiva-Cadáver”), etc etc. Alguns personagens podem até ter identidades duplas, como em “Batman” e “Ed Wood” (biografia do diretor trash que se travestia de mulher para filmar).
5. Não se deixe enganar por Alice: Burton dá muito valor ao trabalho artesanal
“Alice no País das Maravilhas” foi um divisor de águas na carreira de Tim Burton, porque representou a transição mais radical do artesanal para o digital. O motivo é que suas produções estavam ficando caras demais – “Batman” e “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”, por exemplo, exigiram construções gigantescas em estúdio, incluindo réplicas de ruas inteiras, prédios, casarões e áreas externas, só para que o diretor pudesse controlar a luz da melhor forma possível.
Em “O Planeta dos Macacos”, Burton recusou o uso de CGI e encareceu significativamente a produção cobrindo seus atores com horas de maquiagem antes de cada diária. Já em “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas”, ele mandou plantarem todas as flores da cena em que Edward (Ewan McGregor) se declara para Sandra (Alison Lohman), isso só para citar alguns exemplos.
Segundo ele, o trabalho do maquiador ou do escultor pode ser “sentido” no filme, pois haveria uma “força criativa” empregada em cada objeto, boneco ou construção. É por isso que ele se dá tão bem com o stop-motion e investiu na técnica quando Hollywood a considerava ultrapassada e cara.
6. Se ele não se identificar pessoalmente com o projeto, o resultado será um desastre
“O Planeta dos Macacos”, “A Fantástica Fábrica de Chocolate” e “Alice no País das Marvilhas” foram alguns dos filmes “encomendados” que caíram nas mãos de Tim Burton semi-prontos, visando agradar ao público com histórias já conhecidas. No caso dos dois últimos, Burton ainda conseguiu encontrar alguma identificação com os protagonistas – seu Willy Wonka é atormentado pela memória do pai e sua Alice está criando uma realidade paralela para fugir de convenções sociais. Mas os macacos... Bem, vocês viram o filme.
7. Ele se envolve com os companheiros de trabalho como se fossem uma família
Você pode estar cansado de ver Johnny Depp e Helena Bonham Carter em 9 entre 10 filmes de Burton, mas há muito mais onde o olho não vê. Nada menos que 15 trilhas, entre os 18 longas-metragens que o cineasta já dirigiu, são assinadas por Danny Elfman. Rick Heinricks (design de produção) e Denise Di Novi (produção) também são colaboradores habituais.
8. O Estranho Mundo de Jack não foi dirigido por Tim Burton
Apesar de ter criado todo o conceito e os personagens quando ainda trabalhava na Disney, que na época recusou o projeto, Burton não pôde assumir a direção de “O Estranho Mundo de Jack” quando o estúdio finalmente o aprovou, anos depois.
Ocupado com a finalização de “Batman – O Retorno” (que lhe deu tanta dor de cabeça que acabou por afastá-lo permanentemente da franquia), o cineasta pediu ao colega Henry Selick, com quem trabalhara em “O Cão e a Raposa” e no curta “João e Maria”, para dirigir a animação em seu lugar. Selick acabaria por se tornar um animador de respeito, dirigindo "James e o Pêssego Gigante" e "Coraline e o Mundo Secreto".
9. Burton gosta de trabalhar com Johnny Depp porque ele é o herói improvável
Esqueçam as intrigas: Burton não tem nenhum caso com Johnny Depp. Sua parceria duradoura se dá por três motivos: primeiro, porque o diretor gosta de conhecer sua equipe; segundo, porque os dois têm uma criatividade peculiar e se entendem facilmente; terceiro, porque Depp é o herói improvável, perfeito para os personagens esquisitos e levemente assexuados de Burton.
Nas palavras do diretor, Depp foi escolhido porque “golpeia como uma mulher, arremessa como uma mulher e atua como um garoto de 13 anos”. Ouch!
10. Depois de "O Lar das Crianças Peculiares", o próximo projeto de Burton é uma sequência para "Os Fantasmas Se Divertem"
Fique de olho! Depois de adaptar o livro de Ransom Riggs para as telonas, Burton pretende dar continuidade a um de seus filmes mais famosos: "Os Fantasmas Se Divertem" (ou "Beetlejuice"). A sequência ainda não tem data para iniciar a produção, mas Michael Keaton e Winona Ryder podem voltar aos seus papéis originais.
Por Juliana Varella
Atualizado em 29 Set 2016.